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quarta-feira, abril 11, 2012

São Paulo É Um Buquê



“São Paulo é um cinzeiro.” A mensagem pichada num muro perto do metrô Butantã entrega uma das caras de SP, mas não todas. Longe dali o centrão confirma a frase com fumaça e lixo. E a escória, é claro. Ela está esparramada debaixo das marquises, fumando pedra e suando sujeira em trapos fedidos.


Oca - Let's Rock
Fotos deste post:


Mas São Paulo também é beleza, principalmente depois de engolir algumas cervejas diante do palquinho do Jazz nos Fundos, em que o Walmir Gil (com Sizão Machado, Bruno Cardozo, Sandro Haick e Josué dos Santos) prestava tributo ao Miles Davis.


E na cidade há todo tipo de caça-níqueis, até nos museus. A exposição Let’s Rock, na OCA do Parque do Ibirapuera, vendida como a maior do tipo na América Latina exibe mostras do fotógrafo Bob Gruen e dos brasileiros Marcelo Rossi e Otávio Sousa, mas é só. Além das fotos, o evento enche linguiça com um túnel do tempo pra lá de resumido, apresenta discos e apetrechos em vitrines improvisadas, expõe capas da edição nacional da Rolling Stone e, no último andar, disponibiliza fones de ouvido para o visitante se deitar em puffs e assistir, projetada no teto, uma sequência aleatória de imagens de shows enquanto ouve um mix, tosco e óbvio, de hits do gênero. Decepcionante.



Mas São Paulo também é surpresa, e o show do TV on the Radio no Cine Joia, na véspera do Lollapalooza, foi a melhor delas. Cheguei lá antes do Holger desocupar o palco, e a indefinição estilística do grupo paulista – que faz um arco do indie rock padrão até os ritmos tropicais da moda, atraiu a atenção do Kyp Malone, que assistiu boa parte do show. Mas apesar da audiência atenciosa do guitarrista do TVotR a indecisão entre o noise e o suingue não convenceu muito mais gente.




A festa era promovida pela 51, a cachaça, e os bares serviam somente a versão “ice” da marca, além de drinks com a própria caninha. Depois de secar minha terceira garrafinha sabor kiwii, o TV on the Radio subiu ao palco emendando “Halfway Home” e “Dancing Choose”. Desisti de ir buscar mais bebiba pra não perder “Golden Age” e quase esqueci a dor nos pés com a dobradinha de “Repetition” e “Wolf Like Me”. Pro bis, voltaram de “Dreams”, “Waiting Room” – cover do Fugazi e “Satellite”. Noite ganha.


Show na íntegra


Tanto que no dia seguinte achava difícil que o show que eu veria de longe superasse o da véspera. Mas superou. Sem tempo para o bis, no lollapalooza o TV on the Radio condensou seu repertório em pouco mais de uma hora e apesar da indiferença da maioria do público que já se acotovelava na espera pelo Foo Fighters, a atmosfera grandiosa do show inspirou o grupo que conseguiu uma performance ainda mais impressionante.


Bob Gruen: Alice Cooper + Salvador Dali


Depois do TVotR (que se apresentou duas vezes em SP sem tocar “Crying”), fui ver o Pavilhão 9, que aparentava decadência já no show de retorno. Depois de cinco anos longe dos palcos, a melhor coisa que o P9 poderia fazer é continuar distante deles.


Eu já tinha perdido Nada Surf e Band of Horses e o Foo Fighters nunca foi prioridade pra mim, então deixei as cerca de 60 mil pessoas se acomodarem para o último show da noite e assisti, lá de trás, a primeira meia-dúzia de hits da banda de Dave Grohl antes de ir embora, me aproveitando do conforto de um metrô ainda vazio.




No domingo, logo de manhã, fui passear no parque e ver a Gal Costa. O Parque da Juventude funciona no terreno onde era o presídio do Carandiru e ainda abriga uma parte da muralha de vigilância e ruínas de algumas celas da extinta penitenciária. Com formação enxuta (Domênico Lancellotti – bateria e MPC, Pedro Baby – guitarra e violão e Bruno Di Lullo – baixo e violão) Gal misturou as novas de seu último disco, Recanto, com clássicos de sua fase rock/tropicalista como “Divino Maravilhoso”, “Deus É Amor” e “Barato Total”. Mesmo debaixo de um sol causticante a plateia resistiu por quase duas horas de show e só dispersou no começo da tarde.


Alto da muralha do Carandiru

Mas São Paulo também é sabor, e do ceviche do
Suri ao baião de dois do Mercado Municipal, passando pelo espaguete d'O Gato que Ri e pelo sukiyaki do Sushi Yassu, os dias passados na capital paulista sempre deixaram marcas de peso na minha silhueta.


Até a volta SP, você nào é (só) um cinzeiro.


























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