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quarta-feira, abril 03, 2013

O Rio de Janeiro continua lindo, mas...



Ser assaltado no Rio de Janeiro é um clichê que eu não consegui evitar. Em 33 anos em Goiânia fui assaltado duas vezes, em uma semana no Rio fui assaltado a metade disso. Mas o chavão da cena foi tão cinematográfico que fico imaginando se não poderia fazer parte do pacote turístico.



Fotos deste post: Uliana Duarte (exceto*)


Pegar um bronze na praia de Copacabana, passear no bondinho do Pão de Açúcar e, para quem gosta de adrenalina, um salto de paraquedas da pedra da Gávea e um assalto típico com direito à gíria de malandro: “Perdeu, perdeu! Vamo levá tudo”. Não é brincadeira. Mesmo espumando de raiva e imaginando maneiras nada nobres para uma vingança impossível, ao rememorar o episódio não pude deixar de pensar que, fosse em qualquer favela-movie, a cena mereceria críticas severas pela falta de imaginação. 



Virando a esquina...


Um casal de turistas subindo a ladeira de Santa Tereza. Mochila nas costas, bolsa e câmera fotográfica no ombro. Depois de uma curva o casal dá de frente com três garotos mulatos. Dois deles acompanham o casal, enquanto outro fica na retaguarda: “Perdeu, perdeu! Vamo levá tudo. Mostra o oitão aí!”. Tudo acontece muito rápido, um garoto arranca a bolsa e a câmera, enquanto outro puxa a mochila. Todos saem correndo pela escadaria estreita de um beco lateral. Ele corre atrás, mas só consegue fazer um dos assaltantes perder os chinelos e seguir descalço. A única coisa que sobra nas mãos é a sacola com os discos que havia acabado de garimpar nuns sebos do Centro.



Rio de Imagens: uma paisagem em construção - Museu de Arte do Rio


Mas não fui roubado só pelos trombadinhas que “foram obrigados a diversificar os negócios depois que o tráfico nos morros foi dificultado pelas UPPs” (palavras do agente Fernando, policial civil que me atendeu na delegacia), no táxi que peguei no aeroporto, logo na chegada, o taxímetro parou de funcionar misteriosamente depois de uns 3 quilômetros e o preço estimado pelo motorista para a corrida, após um pedido de desculpa pelo “problema técnico”, foi bem acima do valor real, fui descobrir depois.



Rio de Imagens: uma paisagem em construção - Museu de Arte do Rio


Quase pude ouvir o anúncio com voz de locutor canastrão: Venha para o Rio de janeiro, conheça a famosa malandragem carioca e descubra o otário que há em você. No primeiro clique em solo fluminense fotografei um aforismo anônimo registrado num poste perto da pousada: “Filho da puta não tem mãe”



*Foto por Higor coutinho


Fora o casal de gringos que teve infinitamente menos sorte do que eu e minha mulher e, além de roubados e sequestrados numa van, foram submetidos à brutalidade e escrotidão humanas em graus avançadíssimos. A morte é muito pouco para quem é capaz disso.



Rio de Imagens: uma paisagem em construção - Museu de Arte do Rio


E, depois de tanto barbarismo, nem a Baía de Guanabara ali na janela, nem a linguicinha com maionese de batatas do Braseiro da Gávea, nem o lindo e novíssimo MAR – Museu de Arte do Rio, nem o pastelzinho de camarão na mureta do mar na Urca, nem o saldão de vinis da Tracks, nem o show do Two Door Cinema Club no Circo Voador, nem a feijoada alemã da Adega do Pimenta e nem mesmo todas as tantas vistas paradisíacas que o Rio de Janeiro tem, puderam apagar certo medo constante de que dois ou três malandros cariocas transformassem minhas férias (ou minha vida) num pesadelo.










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